Lembro-me perfeitamente de minha infância, quando observava meu pai folheando os exemplares da revista National Geographic e me sentia inspirada a conhecer o mundo. Na minha família, muito se falava sobre a história dos destinos e isso me aguçava o desejo de conhecer tudo que eu ouvia. Meu pai era um apaixonado por explorar o que lia nas revistas. Ele sabia muito sobre lugares, governos, política a partir de suas leituras. No meu ambiente familiar, eu já respirava viagens e sonhos.
Aos 16 anos, na nossa primeira ida aos Estados Unidos, alugamos um carro em Los Angeles e atravessamos o país de costa a costa em 45 dias. O roteiro, pensado, claro, com base nas leituras da National Geographic e de outras publicações, contemplou parques nacionais, como Yosemite, Yelowstone, Zion Park e Grand Tenton. Também fomos a Michigan e seguimos até Dallas para ver de perto os cenários do atentado que tirou a vida do presidente John F. Kennedy. A viagem terminou em Miami, depois de passarmos por Nova York. Foram momentos especiais não apenas pela convivência em família, mas por ter alimentado ainda mais o entendimento de que o mundo era imenso em possibilidades.
As emoções que uma viagem me proporcionava se aqueceram nas primeiras vezes que visitei a Europa. Eu tinha uma tia, irmã do meu pai, que era casada com um austríaco. Eles foram a ponte para que eu pudesse explorar o Velho Continente pós-guerra. Viajava muito com a minha avó, que já era viúva, e eu me tornara a companhia ideal dela. Pensando na minha paixão por viajar, lembro-me especialmente dos belos caminhos que fazíamos de carro pelos Alpes.
Recordo que, em minha primeira vez em Jerusalém, que à época ainda pertencia à Jordânia, nos hospedamos dentro da Cidade Murada. Em seguida, visitamos um destino improvável, Damasco, na Síria, para finalmente chegar à belíssima Beirute, que era considerada a Paris do Oriente Médio. Para uma adolescente de 17 anos, tudo era absolutamente fascinante. Anos mais tarde, já casada e com quatro filhos criados, resolvi que iria trabalhar com turismo. Comecei como freelancer e logo concluí que o que existia na época – as “viagens não personalizadas” – não era o que eu imaginava como ideal para os meus clientes. Era o start para criar a minha própria agência, ao lado do meu filho, Tomas, na tentativa de preparar jornadas que atendessem às expectativas de quem estava viajando, o que significava me debruçar sobre mapas, pensar em soluções logísticas, entender o momento de vida de cada pessoa, escolher os melhores hotéis e propiciar passeios que saíssem do óbvio. Nesse caminho, formamos muitos profissionais, sempre com respeito e valores em primeiro lugar.
Isso tudo também era um pretexto para colocar meu olhar pessoal em cada roteiro criado, pensando no melhor para o cliente. Por isso, quando passei a fazer as viagens profissionalmente, no final dos anos 1980, esse foi o primeiro foco de atenção. Cada detalhe era muito importante. Afinal, estávamos lidando com os sonhos de outras pessoas e não poderíamos decepcioná-las. Eis a nossa grande prioridade.
Mais de 60 anos depois das minhas primeiras descobertas no exterior, a coleção de lembranças é quase infinita. Por exemplo, em 1991, fui à China, ainda muito fechada para o turismo, levando um grupo de 16 amigos. Na viagem, percebi que eu tinha um olhar sensível para o novo, para novas culturas e para as pessoas de cada lugar. Eu queria saber como elas viviam. Tenho interesse pelo que é diferente. Foram sempre verdadeiras revelações para mim a natureza, a cultura, a religião, o jeito de ser de cada povo.
A África foi outro lugar que me despertou a curiosidade. Realizei o primeiro safári em 1986, em uma viagem de volta ao mundo. Anos depois, também na África, vi um leopardo pela primeira vez e fiquei muito emocionada quando o ranger me mostrou as características desse animal, que era extremamente solitário e tinha muito foco, perseverança e determinação ao caçar suas presas. Dessa vivência, eu tirei lições que trago comigo, quase como lemas: focar-se no essencial, saber que o mais simples das nossas vivências é o verdadeiro luxo e entender que a cada viagem aprendemos e nos emocionamos infinitamente.
+ Leia outras crônicas de viagem publicadas na UNQUIET
Matéria publicada na edição 20 da revista































































































































































