Ao longo de mais de uma década trabalhando na cobertura de grandes shows e eventos pelo Brasil, venho tendo a certeza, cada vez mais nítida, de que os festivais são acontecimentos inesquecíveis na vida das pessoas. A comunhão que a música promove, a criação de memória coletiva, a vontade de fazer parte de um grande momento…
A lista de motivos que movem cada um é longa e variada. E, da catraca para dentro, todos fazem parte de uma mesma comunidade apaixonada.
Desde 2013, a serra fluminense tem sido o cenário de um festival que conquistou um lugar especial no coração dos amantes de música e arte. Claro que os line-ups caprichados podem explicar parte desse sentimento, mas a verdade é que a proposta do festival Rock The Mountain é oferecer ao público uma experiência que vá muito além de simplesmente assistir a ótimos shows. E experiências, assim como músicas e ideias, reverberam. Tanto é que o festival viu o seu público multiplicar de tamanho nesses dez anos de existência, chegando a receber 20 mil pessoas por dia em sua última edição, em novembro de 2023, que contou com uma escalação inteiramente feminina, totalizando mais de 100 artistas envolvidas.
Maria Bethânia e Marisa Monte encabeçaram o line-up exclusivamente feminino.
E foi histórico
A equidade sempre foi um critério importante na escolha das atrações a cada edição, e a ideia surgiu naturalmente quando os organizadores do RTM estavam desenhando o line-up baseado nos dois nomes que ocupariam as vagas de headliners naquele ano: Marisa Monte e Maria Bethânia. Na hora, eles pensaram: “É totalmente possível fazer um line-up 100% feminino, o que vai fazer as pessoas falarem sobre isso”, conta Ricardo Bräutigam, sócio fundador, diretor criativo e CEO do festival. “A gente tinha muita confiança. Tinhamos ouvido de outras pessoas que não vendia, que era mais difícil, e quisemos provar que era possível.” Deu certo.
Deu mais que certo, aliás. Foi histórico. Pela primeira vez, um festival brasileiro realiza uma iniciativa desse tipo, em um cenário em que as mulheres seguem na batalha por mais espaço, frequentemente espremidas em line-ups majoritariamente masculinos.
Nos palcos Estrela e Floresta, os maiores do festival, o RTM promoveu uma mistura de estilos, origens e gerações: além das impecáveis Bethânia e Marisa, ainda passaram por lá Alcione, e seus 50 anos de carreira, Daniela Mercury (esse show ferveu demais, aliás), Margareth Menezes, Iza, Marina Sena, Majur, Pitty, Maria Rita, Vanessa da Mata, Jup do Bairro e Gaby Amarantos, entre outras, com direito às dobradinhas explosivas de Valesca Popozuda com Tati Quebra Barraco, e Karol Conká com MC Carol.Mas não para por aí: no RTM existem diversos outros espaços, com música e arte para todos os gostos e estilos basta querer se jogar – tem até tirolesa, bungee jump, balão e roda gigante, inclusive. As mulheres ocuparam todos os mais de dez palcos com shows, DJ sets e performances, numa programação eclética, da roda de samba às pistas de dança, com direito a um chill out e exposições de artes plásticas no meio disso tudo.
Tem também um bar de vinhos naturais e cervejas artesanais para agradar os paladares mais exigentes. Há áreas de comidas espalhadas por diferentes lugares, com um cardápio bem variado, de comida saudável a fast-food.
Tantas possibilidades têm a ver com o conceito que o RTM defende: “A gente tenta que o festival ultrapasse o line-up, que a pessoa queira ir independentemente de quem vai tocar”, comenta Ricardo Bräutigam, que é fã de festivais o suficiente para já ter viajado meio mundo para frequentar uma grande variedade deles repetidas vezes, como o Coachella (Estados Unidos) e o Glastonbury (Inglaterra). “As experiências que tive em festivais lá fora me fizeram criar o Rock The Mountain do jeito que ele é hoje. Viver um dia com os amigos, com a família, curtir um dia inteiro na natureza de todas as maneiras. Essa é a grande experiência do festival.”
Energia verde
Por isso, a escolha da região serrana não foi por acaso, e o cuidado com a natureza é uma das prioridades. Entre as iniciativas sustentáveis estão a reciclagem dos resíduos, a praça de alimentação, totalmente vegetariana, e a neutralização das emissões de gás carbônico do festival. Sem o verde no cenário e a mudança de ares que ele proporciona, a imersão não seria a mesma. Além, é claro, dos encontros, caronas, hospedagens compartilhadas e aventuras que uma viagem a Itaipava (RJ) pode guardar para cada um.
A próxima edição já está confirmada: será nos dias 9 e 10 e 16 e 17 de novembro de 2024, com os mesmos artistas se apresentando nos dois finais de semana. Novamente no Parque de Exposições de Petrópolis. De Joelma a Planet Hemp, de Ed Motta a Pabllo Vittar, de Ana Frango Elétrico a Zeca Pagodinho, o certo é que a música brasileira vai brilhar no topo da montanha mais uma vez.
Matéria publicada na edição 14 da Revista