Com pernas esguias e hábitos solitários, o lobo-guará é um dos símbolos do Cerrado, o segundo maior bioma do Brasil – ele está atrás somente da Floresta Amazônica. Em 2 milhões de km², compostos de florestas, savanas, campos e nascentes das maiores bacias hidrográficas do país, foram catalogados mais de 850 espécies de aves, 251 mamíferos, 482 répteis e anfíbios e 1,2 mil de peixes. Entre eles figuram outros animais emblemáticos, como o sapo-flecha-do-cerrado, o jacaré-anão, o veado-campeiro, o tamanduá-bandeira, o tatu-bola e a onça-pintada. A flora também é impressionante, com 13 mil espécies de plantas.
O que poucos sabem é que, atualmente, restam apenas 50% da área original do Cerrado brasileiro. Diante desse cenário, a Fazenda São Francisco da Trijunção nasceu com o propósito de conservar a biodiversidade da região e melhorar a qualidade de vida das comunidades locais. A propriedade está instalada na junção de três estados – Minas Gerais, Bahia e Goiás – e possui mais de 33 mil hectares remanescentes de Cerrado. Cerca de 90% desse território é destinado à preservação e 10% à produção agrossilvipastoril sustentável.
Com projetos conservacionistas, a Fazenda Trijunção atua ao lado de entidades como o Onçafari no desenvolvimento de pesquisas para proteger animais ameaçados de risco de extinção. Entre elas, seis lobos-guarás são monitorados por biólogos com a tecnologia do radiocolar, enquanto outras espécies são acompanhadas via câmeras do tipo trap. Os esforços garantem a proteção de espécies que ali se reproduzem e vivem livremente.
Os projetos de sustentabilidade da fazenda também compreendem um criadouro de animais silvestres, com a finalidade de estabelecer um banco para reserva genética, pesquisa e conservação e preparação de espécies para a reintrodução em seu habitat natural e abrigar aquelas inaptas para o retorno à natureza. O criadouro ainda tem como função a educação ambiental e atualmente abriga mais de 250 animais, entre jabutis-tinga, antas, emas, queixadas, catetos e veados-catingueiros.
Em 2018, a atuação da fazenda se estendeu ao ecoturismo: uma das casas da propriedade foi transformada na Pousada Trijunção, com o objetivo de conectar os viajantes à natureza e promover a conscientização sobre esse bioma brasileiro. “Partindo da premissa de que para conservar é preciso conhecer, a pousada é, acima de tudo, um projeto de conservação. Acreditamos que a vivência do Cerrado em primeira pessoa é o que cria a conexão entre o viajante e o lugar. Ao viver aqui alguns dias, conhecer mais o bioma, sua fauna e sua flora, descobrir seus segredos e suas riquezas, o viajante se torna também um guardião do Cerrado”, afirma Pedro Treacher, diretor geral da pousada.
Norteada pela sustentabilidade, a pousada possui painéis solares para o aquecimento de água, iluminação de LED e piso revestido de madeira de demolição. Além disso, a sede ganhou vegetação nativa e um espelho d’água para diminuir a temperatura do ambiente e, consequentemente, reduzir o uso de ar-condicionado. Com apenas sete suítes, a Trijunção evita o impacto causado pelo turismo de massa e ainda proporciona aos viajantes uma experiência ainda mais intimista com a natureza.
A programação abrange passeios, como o ecossafári (feito com o Onçafari), em carros para o avistamento da rica fauna silvestre na companhia de biólogos e guias. Como uma atividade educativa, os hóspedes são convidados a visitar os projetos conservacionistas e os criadouros da fazenda – uma maneira de fornecer um conhecimento aprofundado sobre o bioma e propagar a importância de sua conservação.
Passeios de caiaque e bike e almoço nas veredas, entre outras experiências, proporcionam novas descobertas nesse destino, ainda pouco conhecido pelos brasileiros. Percorrer os caminhos que inspiraram a obra Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, e contribuir para sua preservação é uma experiência duplamente gratificante.