Serra do Rio do Rastro SC

Desafio entre as nuvens
Para chegar até o topo e ver o mar, distante 100 quilômetros, você enfrentará 284 curvas fechadas na SC-390, durante anos a estrada mais perigosa do Brasil

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Vira e mexe, a serra do Rio do Rastro surge na internet como uma das mais belas e desafiadoras do mundo.

Nem mesmo o britânico The Guardian resistiu à sua beleza, abundante em contornos pronunciados. E não é para menos. De tão peculiar, a rodovia SC-390 chega a ser dramática: ligando o litoral à serra catarinense, faz um ziguezague pontuado por 284 curvas fechadas – algumas com 180 graus –, desenhando uma pista em mão dupla, estreita e íngreme, que começa em Lauro Müller e sobe em direção a Bom Jardim da Serra, em um trajeto que leva, em média, uma hora. Admita, só de ler já tira o fôlego. Pois bem. Para curtir tranquilamente essa viagem pela serra do Rio do Rastro, aderência e estabilidade são palavras-chave.

Esse caminho, há séculos aberto por indígenas e alargado por tropeiros, só foi pavimentado na década de 1980. São 12 quilômetros de concreto armado em uma extensão total de 35 quilômetros. Habilidade como motorista é essencial – e contar com um controle de descidas em rampas que mantém constante a velocidade do veículo em áreas íngremes faz uma diferença descomunal, em termos de segurança, conforto e desempenho. Também é fundamental dirigir um carro seguro, como um Mitsubishi 4×4. Descer a serra, aliás, soa emocionante, rente a um imponente paredão. Mas subindo se pode entender como essa estrada curvilínea com declive acentuado vai exigindo mais e mais dinamismo por parte do motorista e do veículo. A pista corta um cenário de paisagens cenográficas de mata atlântica, pautadas por cascatas, escarpas, desfiladeiros e oratórios antigos encravados na rocha.Chega uma hora em que o caminho se estreita ainda mais e se um veículo maior vier na mão oposta, muito provavelmente um dos dois terá que recuar para ceder passagem ao outro.

Foto: Sandro-Rodrigues – Flickr
Foto: Mariana-Heinz – Flickr
Foto: Bessem-Hamud – Flickr
Foto: Bessem-Hamud – Flickr

Vencido o desafio, a ascensão da serra do Rio do Rastro traz sabor de recompensa quando se chega ao fim da jornada: a 1.421 metros de altitude, já em Bom Jardim da Serra, um mirante ao lado do posto 21 da Polícia Rodoviária descortina uma vista que corre da mais extensa cordilheira da região Sul do Brasil até o mar, a impressionantes 100 quilômetros dali. Por isso mesmo, para um epílogo cinematográfico em tons alaranjados, o ideal é começar a subida calculando chegar ao topo antes do pôr do sol.

É hora, então, de curtir a vista, tomar um pouco de ar fresco e um espresso bem quente. O lugar conta com estacionamento, café e restaurante, além de loja com produtos do artesanato local. Vale lembrar que séculos atrás o topo da serra era o ponto de descanso dos tropeiros antes de descer ao litoral – um trajeto que podia levar até cinco dias para ser completo.

Foto: Reprodução, Guilber Hidaka para a MIT – Revista 48

Para quem pensa que o passeio acaba quando anoitece, fica a dica: permaneça. Porque à noite, a cena é também espetacular, com o traçado sinuoso da estrada inteiramente iluminado. Toda essa contemplação, é claro, só é possível quando o tempo permite. O melhor a fazer é escolher um dia de céu limpo, mas essa escolha não garante cem por cento o panorama, é bom ressaltar. Independentemente da época do ano, a neblina vai e vem durante o dia – e se a temperatura é muito baixa, é comum a formação de lâminas de gelo sobre a pista. Quando isso acontece ou se chove demais, a estrada é interditada para garantir a segurança.

Foto: Otávio Nogueira – Flickr
Foto: Otávio Nogueira – Flickr
Rio do Rastro Eco Resort-(Reprodução, Guilber Hidaka para a MIT – Revista 48

Além de percorrer esta, que já foi considerada a estrada mais perigosa do Brasil, há trilhas interessantíssimas a explorar na região. Vale lembrar que em Bom Jardim da Serra estão os três desfiladeiros mais conhecidos de Santa Catarina: as trilhas para os cânions das Laranjeiras e do Funil podem ser acessadas de carro. Já o cânion da Ronda pode ser visitado a pé: a partir do Mirante, chega-se ao acesso com uma caminhada de 15 minutos. E embora a contratação de guias para chegar aos melhores ângulos de observação não seja obrigatória, é aconselhável fazer as trilhas com um deles, não só por motivos de segurança, mas para aproveitar melhor o passeio e apoiar o turismo da região.

Foto: reprodução, site Canto das Águas Café da Serra / Bistrot

Quando ir

Dada a presença constante da neblina, é arriscado apontar uma época ideal para ir. No verão as temperaturas podem ser mais agradáveis e a paisagem, verdejante, mas é praticamente certa a chuva no fim da tarde. Nos dias de inverno, por sua vez, as tempestades desaparecem, mas nem todo mundo suporta o frio, que facilmente chega a temperaturas abaixo de zero – estamos na região mais fria do país, é bom lembrar. A melhor dica é lançar mão dos serviços de meteorologia e acompanhar as condições de visibilidade pelo portal serradoriodorastroaovivo.com.br , com imagens da região em tempo real.

O que fazer

Aproveite para conversar com os moradores locais e descobrir achados, mergulhar nos sabores da culinária rural e contemplar a paisagem bucólica do entorno. Contemplar rios, trilhas e cachoeiras e se aventurar nas road trips, descobrindo igrejinhas e grutas pelo caminho. Nas cidades próximas, como São Joaquim, há vinícolas com ótimos vinhos e toda a infraestrutura para receber os visitantes, como a Villa Francioni, Leone di Venezia e Vinhedos do Monte Agudo.

Foto: Reprodução Guilber Hidaka para a MIT – Revista 48

Foto: reprodução, Leone di Venezia

Onde comer

Em vários pontos da rodovia há quiosques onde é possível parar para comer algo e comprar produtos típicos. No geral, os restaurantes são simples e servem comida caseira. Tendo como referência o mirante no topo da serra do Rio Rastro, o Empório Aparados da Serra fica a oito minutos de carro, com ambiente aconchegante e produtos artesanais bastante elogiados, como as rosquinhas de coalhada, geleias deliciosas, farofa de pinhão e o famoso empacotado da Raquel (queijo frito com açúcar e canela). Com proposta artesanal, o Canto das Águas Café da Serra & Bistrot tem atmosfera rústica e uma torta concorrida, a Malu, preparada com maçãs, que chega à mesa quentinha – um bom lugar também para um pedaço de bolo com uma xícara de chá ou café. Vale esticar até Urubici e São Joaquim, onde há boas opções, como o Pequeno Bosque, com pratos italianos contemporâneos e fondues, e o Ristorante Toscano, com boas carnes grelhadas e hambúrgueres artesanais.

Onde ficar

A região conta com dois lugares exclusivos para ficar em contato com a natureza. Um deles, em Urubici, é o Il Rifugio com apenas três cabanas, todas para casais, e uma vista espetacular para a cadeia de montanhas e o nascer do sol, além de confortos como redário e fogo de chão. O café da manhã tem pratos muito caprichados, preparados com ingredientes locais frescos. Almoço e jantar não são servidos na pousada, mas há um serviço de entrega nas cabanas, de restaurantes parceiros na região. Já o Rio do Rastro Eco Resort, fica no início da descida da serra, em frente ao mirante e bem perto do cânion da Ronda, com excelente estrutura. Para relaxar, sauna, lounge, serviços de massagem e chalés quentinhos e muito confortáveis. Para agitar, atividades como canoagem, equitação e trilhas a pé.

Rio do Rastro Eco Resort (Reprodução – Guilber-Hidaka para a MIT – Revista 48)

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